terça-feira, 29 de março de 2011

Que futuro?

Pá eu acho que apesar da crise e das conclusões de um estudo muito bom que até foi feito nos Estados Unidos com base nos testes realizados a uma amostra alargada, composta por um total de 3 pessoas, todas membros da equipa de investigação (isto sou eu a imitar a introdução a uma "notícia" do telejornal), para mim e para quem me conhece, não há tema que encaixe tão bem no meu início de frase / marca registada "Pá eu acho que..." do que: "...no futuro...". Fórmula que é acompanhada invariavelmente por um semicerrar dos olhos que se fixam imediatamente no horizonte real ou imaginado. A minha mulher fica logo bem disposta quando me ouve iniciar uma frase dessa forma, antecipando os momentos de diversão que mais uma ideia mirabolante lhe trará.

Desde sempre que o futuro me pareceu muito mais interessante que o presente e quando por um inoportuno acaso as coisas imaginadas como fazendo parte do futuro vêm de repente parar ao presente, para mim perdem logo quase toda a magia. O presente é um oferecido, olhamos à volta e está tudo escarrapachado! O futuro sim é um desafio. É preciso conhecer bastante bem de onde vimos e o que verdadeiramente nos move para conseguir ter uma boa ideia do que acontecerá no futuro. O passado é o meio termo. Existe informação sobre ele mas é preciso contar com o duplo efeito iceberg: daquilo que sabemos, só 1/7 é verdadeiro e o que sabemos que é verdadeiro dá-nos ideia de apenas 1/7 do que aconteceu de facto. A proporção 1/7 é apenas um exemplo baseado nos icebergs reais, claro. Quanto mais antiga a época maiores os denominadores dos dois efeitos, se bem que no caso do primeiro a variação é muito menos significativa que no do segundo. Por exemplo: não é óbvia a origem da crise em Portugal e qual a solução para ela. Será que isso acontece por não termos tido informação suficiente sobre o passado recente ou pelo contrário por sermos bombardeados constantemente por todo o tipo de informação que acaba por quase impossibilitar a identificação daquela que é verdadeira e útil?

De qualquer forma, sempre me senti fascinado por aquilo que não existe mas que a qualquer momento pode ser resgatado pela imaginação para entrar no domínio do real. Quando estava na primária e me perguntavam o que é que eu queria ser quando fosse grande, respondia sempre: "Quero ser médico mas tenho jeito para inventor!". Todos achavam graça à resposta e diziam algo como: "Boa! Assim pode ser que descubras a cura para o cancro." mas o meu interesse pela medicina foi efémero, se é que alguma vez existiu. Já o pela invenção ou, mais genericamente, pela imaginação, não se desvaneceu. Aliás devo confessar que apesar da crise e de os homens não serem supostamente dotados para o multitasking, o meu cérebro está permanentemente dividido em 4 funções (também se deve ocupar entretanto de funções básicas como respiração e batimento cardíaco senão provavelmente já me teria apercebido): 1 - a tarefa que estou a fazer no momento, como a trabalhar, a escrever no blog, etc.; 2 - uma avaliação dessa tarefa que estou a fazer, de qual a sua verdadeira importância e de como ela poderia ser feita melhor ou mais rapidamente; 3 - uma apreciação da utilidade dessa tarefa no futuro, de quando e como se tornará obsoleta, etc.; 4 - a banda sonora, que é normalmente a repetição contínua da última música que ouvi ou em que pensei conscientemente. A minha produtividade não é portanto grande coisa como podem imaginar!.

Estar sempre a pensar no futuro faz no entanto com que além de visões longínquas também me ocorram frequentemente ideias de possível aplicação imediata, mas admito que ainda não consegui levar nenhuma à prática, normalmente porque implicariam um investimento inicial que não posso ou quero financiar. De qualquer forma tenho alguma motivação em ver essas ideias serem concretizadas alguns anos depois como por exemplo as molduras digitais, os leitores de e-books sem emissão de luz, menus de restaurante electrónicos usando tablets, etc. A minha última ideia que estou à espera um dia destes de ver noticiada num telejornal é a de um sistema ERP pessoal. Ou seja, um sistema de gestão integrada que, em vez de servir para ajudar a dirigir e administrar uma empresa, ajudaria a gerir a vida de cada um. Teria módulos de gestão de relações (CRM), gestão de tempo/tarefas, gestão de carreira, gestão financeira, gestão estratégica com encadeamento de objectivos pessoais, etc. Teria toda a informação armazenada para nos ajudar quer a tomar decisões importantes quer a fazer as tarefas do dia-a-dia. Se ele pudesse usar os recursos das redes sociais e outros disponíveis online, potenciaria enormemente a eficácia de vários módulos como os da gestão de relações e carreira - acesso do sistema a informação sobre contactos, a ofertas de emprego, a estatísticas de saídas profissionais para diferentes áreas, a aplicações financeiras, etc. Este sistema poderia estar num suporte como um smart phone por exemplo para facilitar o uso contínuo.

O futuro mais longínquo torna-se mais complicado de prever. Tal como disse o mestre Yoda: "Difficult to see. Always in motion is the future". Eu não acredito em destino, profecias, horóscopos, ou o que quer que seja que faça parte desse domínio e acho piada a pessoas que ainda tentam racionalizar algumas dessas práticas dizendo por exemplo "sim, xpto é uma vigarice mas os signos fazem sentido porque têm a ver com a combinação das forças gravíticas dos planetas que nos influenciaram quando nascemos". O que normalmente não ocorre a essas pessoas é que mesmo assumindo que somos influenciados de alguma forma pela gravidade e apenas especialmente no momento do nascimento, a força gravítica de corpos muito mais pequenos mas muito mais próximos é maior que a de qualquer planeta (exceptuando o nosso, claro). De qualquer forma é insignificante em qualquer dos casos - todos sentimos num momento qualquer da vida uma atracção especial e forte por alguém, mas não se lembram de ter caído para cima de uma pessoa por causa da sua gravidade pois não? Bem, pode ser uma desculpa imaginativa! "Eu queria sair de cima de si mas a sua gravidade é tão forte que não consigo resistir!" "Compreendo perfeitamente: a minha mão está repetidamente a ser atraída pela sua cara e o meu joelho pelo seu baixo ventre!". Para garantir melhores resultados não se esqueçam então da próxima vez que vos fizerem uma carta astral de indicarem pormenorizadamente onde estavam quando nasceram, qual era a mobília do quarto e onde é que estava cada pessoa para que assim seja possível verificar toda a combinação de forças gravíticas. "Júpiter em Escorpião sugere que este é mesmo o amor da sua vida mas como o obstetra estava em Peixes e a enfermeira em Capricórnio eu não arriscaria!".

Já vos aconteceu alguém dizer-vos: "Eu não acho que os videntes consigam mesmo adivinhar a nossa vida, por isso fui a dois e assim já sei que o que me disseram os dois em comum é que está certo!" (com um sorriso orgulhoso pela esperteza)? A mim já aconteceu e posso dizer que nesse momento estava a pensar: "dou-lhe um estaladão ou não vale a pena? Dou-lhe um estaladão ou não vale a pena? Dou-lhe um estaladão ou não vale a pena?...".

Sobre as profecias, é engraçado verificar que as mais famosas são sempre as menos objectivas. Em cada década retiram-se interpretações diferentes do mesmo grupo de palavras aleatórias: primeiro era a queda de um império, depois uma invasão, a 2ª Guerra Mundial e agora já era o 11 de Setembro. É pena é que, entre todos os profetas, não houve aparentemente nenhum que soubesse escrever de forma clara o que viu. Não duvido que tenham visto alguma coisa, mas essa visão necessitou do consumo de substâncias psicotrópicas em tal quantidade que deu irremediavelmente cabo da capacidade comunicativa do vidente, pelo menos com criaturas do nosso plano existencial. Ainda está por descobrir uma profecia objectiva como: em 2010 vai surgir um blog que vai trazer sofrimento atroz a todos os que o lerem. Ah, ok, isto também continua a ser aplicável a milhares de casos...

Ainda pior que as profecias escritas são os que as vêem no meio de textos sagrados e outros. Pelo menos os profetas ainda se deram ao trabalho de escrever versos! Tudo bem que não têm grande qualidade poética, mas pelo menos esforçaram-se e não terá sido pouco tendo em conta a sua sanidade mental (como referido acima). Agora ir fazer sudoku na carta de São Paulo aos Gálatas e depois meter tudo num livro a dizer que o mundo vai acabar e vender milhares de cópias, é um belo negócio sim senhor! Merecedora sem dúvida de uma cegueira divina instantânea... Eu também consigo encontrar o nome de todos os campeões do mundo de futebol num post meu, seguindo uma chave especial que só eu é que sei. Tenho que publicar isto e vender a quem queira ganhar apostas.

De qualquer forma, saindo do domínio do metafísico e transcendental, apesar de não acreditar que dê para ver ou adivinhar o futuro, acho que dá para deduzir que acontecerão alguns eventos importantes, mas não quando ou por que ordem. Lembrando o que escrevi no post anterior, tudo funciona de uma forma caótica e não linear. Por isso por exemplo se encontramos um rio, sabemos imediatamente que ele vai acabar no mar, mas não podemos saber onde ou quanto tempo depois. Mesmo sabendo que o mar está a 10 km, o rio ainda poderá correr paralelamente à margem por muito tempo antes de chegar à foz. Da mesma forma se vir alguém a jogar golf sei que a bola irá cair no buraco mas isso pode acontecer depois de 3 tacadas ou 300...

Existem assim pontos ou passos ou nódulos de desenvolvimento ou o que se quiser chamar que irão mais tarde ou mais cedo ser cumpridos mas sem que seja possível saber quando ou de que forma ou sequer por que ordem. Por exemplo se estivéssemos no século II ou III poderíamos imaginar que determinados desenvolvimentos em medicina ou engenharia seriam alcançados no futuro mas não que por causa de movimentações de povos nómadas, radicalização religiosa, etc. isso só iria acontecer por volta do século XIX. Da mesma forma, quando depois das guerras napoleónicas e por consequência delas a Europa ficou dividida em maiores e muito menos Estados independentes, tornou-se mais ou menos evidente que a recém formada Alemanha tinha população, recursos e infraestruturas para se vir a tornar o país mais poderoso do continente, apesar de não ter colónias. O processo de deslocação do centro da Europa da Inglaterra para a Alemanha provocou as duas maiores guerras da história e demorou cerca de 150 anos mas o que é certo é que hoje e através principalmente da União Europeia (uma via pacífica quem diria!), a Alemanha já ocupa incontestadamente essa posição.

Hoje em dia olhamos para a China como estando numa situação semelhante. Têm população, recursos e infraestruturas para se tornarem o centro mundial e já dominam economicamente os Estados Unidos, onde tem estado o poder pelo menos desde a 2ª Guerra, por isso se não houver uma mudança radical, mal ou bem, demorando muito ou pouco, o centro irá para lá. Até agora foram sempre países de cultura europeia ocidental que ocuparam essa posição (antes do século XVII só podemos falar em centros regionais) por isso seria uma alteração dramática na ordem mundial, nos valores e política dominantes, etc. Seria uma mudança tão grande especialmente para os países como o nosso, habituados a ocupar o lugar de topo da "cadeia alimentar", que muito dificilmente poderia acontecer de modo pacífico.

As maiores fraquezas da China são o regime político central e autoritário (apesar de muito aberto economicamente) e o facto de incluir muitas minorias étnicas mesmo com processos passados e em curso de os deslocalizar e substituir por chineses. É de esperar por isso que a oposição ao regime e os movimentos independentistas locais sejam apoiados cada vez mais como forma de enfraquecer o país. Aliás, apesar da China estar muito mais aberta ao ocidente e ser identificada como amiga, aliada, etc. a visibilidade da oposição e de movimentos independentistas está a crescer, com por exemplo o maior destaque dado à causa pela independência do Tibete, adormecida durante décadas, e recentemente com a atribuição do prémio Nobel da paz a um contestatário ao regime. A necessidade de importar petróleo de outros países, sobretudo africanos, poderá ser também explorada.

Eventualmente o cenário poderá ser o de uma guerra fria em palcos como a Coreia com o objectivo de isolar e desagregar a China como aconteceu com a União Soviética. Se considerarmos no entanto que basta à China vender toda a reserva que tem de USD para causar uma crise no mundo ocidental ao nível da de 1929 e maior que a actual, é fácil concluir que um confronto político assumido só será uma opção de último recurso.

Continuando a prever o futuro, qualquer português consegue deduzir que o próximo governo será liderado pelo PSD. Depois de um ou dois mandatos será liderado pelo PS, depois pelo PSD, ... A oscilação do poder executivo em Portugal segue um princípio estocástico - caótico dentro de limites definidos, ou seja, não dá para saber se daqui a 20 anos o governo será PS ou PSD mas, se nada de fundamental acontecer, como o surgimento de um novo partido de poder, será certamente um dos dois. E também me arrisco a prever que o país estará em crise!

"No futuro" é então o quinto e último tema deste blog e talvez o meu mais caro. Tenho é o desafio a partir de agora de escolher assuntos dentro deste contexto que sejam minimamente interessantes para alguém que não eu, ou tão estranho como eu, e sobretudo que não motivem um processo de internamento compulsivo num hospital psiquiátrico!

De qualquer forma, como sugeri no post "Grandes para quê?", acho que cada um deve ler os posts por tema e não cronologicamente, escolhendo só o que lhe interessa. Estou a pensar até em mudar o design do blog para dividir os temas por separadores e assim facilitar que a leitura seja feita dessa maneira.

Para concluir quero só dizer que estou contente porque consegui acabar a fase de introdução do blog em apenas meio ano! Continuando a este ritmo, o centésimo post será escrito por um neto meu... e isto é uma dedução, não uma adivinhação!

2 comentários:

Pólo Norte disse...

Ai de ti! :)

Achador disse...

Então, querias beber capuccino todos os dias? Aliás, capuccino não, capuccone! Com o café todo destes 3 capuccones de Março dava bem para uma bica por dia. Mas bicas já bebes em todo o lado :)