sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Napalm

Pá eu acho que sou um porco. Quem diz um porco diz um carneiro ou um boi ou outro animal doméstico qualquer. Sou eu e é toda a gente que está a ler este post quase de certeza. Esta constatação atingiu-me em cheio quando enfrentei o olhar de alguém que passou dezenas de anos em guerra. Não interessa o tamanho do corpo, a aparência, a massa muscular. O olhar. Aquele olhar aguçado, vivo, alerta e selvagem, totalmente focado, dando uma sensação quase física e invasiva de contacto, por oposição ao nosso olhar mais mortiço e desfocado, bastou para compreender que o conceito a que chamo mundo é afinal uma enorme quinta e que para lá dos seus limites existe ainda outro mundo que não conheço nem espero alguma vez vir a conhecer. Todas as nossas diferenças culturais, linguísticas, religiosas, etc. para os outros seres humanos, pequenas e grandes, originam níveis equivalentes de incompreensão mas aparentemente nada é tão separador como encarar a própria sobrevivência como um conceito abstracto relacionado mais com o nosso planeamento financeiro, ou vê-la, não no futuro mas no presente, como a nossa maior (ou até única) preocupação. Permanentemente. Na realidade (e felizmente) antes de o fazer com o cão, o cavalo ou a cabra, o nosso processo de domesticação de nós próprios já tinha começado há muito tempo.

Numa visita à quinta, essa pessoa, vamos chamar-lhe Mr.Wolf (sim, sou fã do Tarantino) partilhou por mero acaso uma refeição com uma familiar de uma vítima do 11 de Setembro e escutou compreensivamente o relato do atentado e sofrimento que provocou até ao momento em que este começou a ser substituído por apreciações (de um animal de quinta como nós, bem entendido) sobre os terroristas, suas motivações e bases de apoio ao terrorismo. Mr.Wolf, conhecedor do tema, com uma preocupação meramente informativa, decidiu então descrever minuciosamente os efeitos de um bombardeamento de napalm em povoações onde os homens estão normalmente ausentes por estarem escondidos a utilizar técnicas de guerrilha. Depois de guardarem silêncio durante alguns minutos, a familiar da vítima concluiu resignada: "we deserved it".

Lembrei-me disto porque tenho estado com um humor cada vez pior e só vejo napalm à frente: tenho que fazer alguma coisa para me livrar rapidamente dos bidons que comprei a pensar nos bloggers e que me estão a ocupar metade da casa. Ontem tive até que dar uma desculpa esfarrapada à pediatra da minha filha de 2 meses dizendo que o cheiro a gasolina que estava na roupa dela era só porque a tinha deixado experimentar abastecer o carro. Ainda bem que fui rápido a pensar em qualquer coisa verossímil. Se houvesse a suspeita que uma bebé de 2 meses dorme em cima de um bidon de napalm (com um colchão de fibra de bambu em cima claro!) ainda me arriscava a perder a custódia dela e isso iria de certeza causar problemas com a minha mulher quando chegasse a casa: "Olá querida." "Então, onde é que ela está?" "Err...Fui à pediatra e está tudo bem com ela! Temos uma filha perfeita!" "...Sim, mas..." "Pois, só que...err...alguns testes foram inconclusivos por isso ela teve que ficar lá para...pronto, para os fazer outra vez, eheh...depois volta, claro." "Ahhhh ok.......(pega no telefone)......Estou? Podia falar com a Dra. por favor?" momento em que eu fujo de casa o mais rápido possível.

Convém então ver-me livre dos bidons mas não os posso simplesmente mandar fora porque sou uma pessoa ecologicamente responsável e por outro lado também não me sentiria bem comigo mesmo em perder esta boa oportunidade já que há por aí muito boa gente que tem feito por merecer um bidonzito de napalm pela cabeça abaixo. E quando digo pela cabeça abaixo é já incendiado claro senão seria só uma maneira parva de fazer alguém ficar a cheirar mal durante um mês. Isto faz-me pensar que se já houvesse napalm no tempo da Inquisição espanhola haveria certamente gente do clero muito mais feliz: "Boa! Demorámos décadas a matar 1/3 dos flamengos por serem Protestantes mas agora damos cabo do resto em semanas numa série de bombardeamentos!" Feliz ao ponto de cumprir alegremente o voto de castidade. Aliás será que aceitariam o package promocional: poderem usar napalm mas pedofilia passar a ser também punida com um banhito do fogo divino líquido? É uma pergunta difícil mas eu acho que sim. Por outro lado fora do clero é óbvio que haveria muita gente muito menos feliz, ou melhor dizendo e simplificando acho que haveria muito menos gente.

Agora que penso nisso, livrar a sociedade de certas e determinadas pessoas até é capaz de me tornar numa espécie de justiceiro; num herói das classes oprimidas. Mas de qualquer forma confesso que não preciso desse tipo de incentivo. É que eu sou uma pessoa sádica e rancorosa por natureza por isso largar napalm sobre alguém vai por si só ser catártico, libertador e anti-stress o suficiente para me motivar.

Acho mesmo que vai ser tão motivante que assim que começar a virar bidons, por assim dizer, não vou conseguir parar até ficar sem napalm e provavelmente ainda vou acabar por fazer outra visita ao Wal-Mart para repor os stocks. Aliás, é comum no meu dia-a-dia, quando quero mostrar a minha opinião depreciativa sobre uma determinada pessoa, em vez de dizer por exemplo: "Ah e tal aquele gajo é uma grandessíssima besta!" digo "Epá aquele gajo: napalm!" e é o suficiente. Ao fim e ao cabo proponho-me apenas passar das palavras aos actos.

A minha sorte é que, como isto de ir nutrindo sentimentos venenosos sobre diversas pessoas é uma coisa que já vem de longe, para não deixar que se tornasse algo incontrolável, aprendi a utilizar um antídoto bastante simples. Esse antídoto é: Yann Tiersen. Basta concentrar-me na pessoa que é o meu alvo num determinado momento enquanto ouço algo do Yann Tiersen. Vou pensando na sua vida, nos seus sonhos, etc. e sinto logo a minha sede de violência esmorecer e ser substituída por uma vontade enorme de falar com essa pessoa, abraçá-la e explicar-lhe que podemos ser amigos e lutar pelos mesmos ideais. Às vezes cheguei mesmo a meter-me no carro mas é exactamente por essa razão que não tenho lá Yann Tiersen a tocar mas sim algo mais neutro. Acabo sempre por voltar para trás a meio do caminho quando o efeito se desvanece.

Vamos fazer um exercício prático: alguém que de vez em quando me apetece regar com napalm é por exemplo o Alberto João Jardim. É preciso explicar por quê? Tudo bem, não escolhi o Madail por exemplo que seria muito mais óbvio, mas se considerarmos aquela mania de vir permanentemente rebaixar quem quer que seja visto como um eventual entrave às suas políticas regionais, quando estas resultam não de uma extrema competência mas de um financiamento anual pago pelo continente de 300 milhões de Euros usados especialmente em vésperas de eleições ou, para quem é da Madeira, quando todos os órgãos de comunicação social regionais estão controlados ou abafados, garantindo a proeza de o Presidente do governo regional da Madeira ser o governante democraticamente eleito com o recorde mundial de permanência no poder, apenas ultrapassado na lista total de governantes por Muammar Kadafi, acho que está tudo dito.

Para iniciar o exercício ponho então algo do Yann Tiersen a tocar: e começo a pensar no pequeno Alberto João (Beto João? Betojão? Bertojão? Bejó? Bem, não interessa) numa bela tarde de Outono madeirense, o Sol derramado sobre as calmas águas do Atlântico em que ondas rebolam preguiçosamente até abraçarem a costa de pedras quentes. Alheio a esse cenário, passa as horas com os seus amigos a brincar às escondidas entre as bananeiras. A jogar à bola junto ao mar. A fazer corridas em terra e na água. A competir. A gracejar. A amuar. A imaginar. A discutir. A abraçar. A rir. Quando começa a anoitecer finge que não ouve a mãe a chamá-lo para voltar para casa porque quer continuar a ver o que é que aquele bicho está a pensar fazer. Quando finalmente regressa relutante, ouve a tradicional descompostura, acompanhada pelo também costumeiro breve puxar de orelha e senta-se de imediato a empanturrar-se com o jantar de espada com banana.

Então? Ainda há alguém a querer cobri-lo de napalm? Eu pelo menos já sinto a minha vontade diminuir consideravelmente.

Continuando: Alberto João foi para Coimbra com a ambição de voltar Dr.Jardim. Eventualmente viria a consegui-lo ao fim de 10 anos e até lá gozou, como muitos de nós o fizeram ou fariam, a vida académica pelo que tem de melhor, ainda por cima na sua capital. Do Mondego até à torre da universidade, dias e noites eram preenchidos com copos. Canções. Brincadeiras. Gozações. Serenatas. Repúblicas. Queimas das fitas (não como as actuais). Discursos inflamados (em privado). De vez em quando também umas aulitas. Levou a poncha para a noite de Coimbra e levou a noite de Coimbra na memória quando regressou finalmente à Madeira. Nunca mais deixou de ser conhecido como bom parceiro para as festas, seja entre companheiros num café na Câmara de Lobos ou entre sambistas no desfile de Carnaval do Funchal.

Deixando-me entusiasmar pela música (os mais atentos dirão "a música não é da banda sonora desse filme" e eu direi "podem por favor escrever o vosso nome e morada que tenho ali uns bidonzitos de prenda para vocês?"): Alberto João Jardim aime poncha, aime inaugurações e aime bujardar nos "cubanos". Ele n'aime pas outras pessoas com opiniões diferentes das dele, n'aime pas outras pessoas com opiniões,...n'aime pas outras pessoas.

Ok, confesso que apesar da terapia já começo a sentir aumentar outra vez a vontade de lhe dedicar um bidon e acho que quando o voltar a ver e ouvir no telejornal ela ficará totalmente restabelecida. Talvez seja melhor focar-me só na infância daqui para a frente que é mais eficaz. De qualquer forma acho que ficou claro pelo exercício prático o impacto que tem o antídoto Yann Tiersen.

Vou então dedicar esta área do blog (2ª de 5) a relatar o meu hobby secreto de entornador de bidons de napalm. Se há blogs para todo o tipo de hobbys: cozinha, bordados, cinema, livros, animais domésticos, etc. por que não o hobby de colocar seres humanos em combustão? Isto sim é uma actividade radical! Mas de qualquer forma prometo que será sempre por bom motivo. Não é só chegar cá e pedir para levar com napalm. Os candidatos terão sempre que ser submetidos ao teste Yann Tiersen para verificar se são de facto merecedores de levar com um bidon.

sábado, 16 de outubro de 2010

Eu

Pá eu acho que os 100 anos da República foram aproveitados ao máximo. É sempre mágico ver como, independentemente da sua falta de organização, planeamento, cooperação, iniciativa, etc. os portugueses conseguem sempre por ocasião de qualquer efeméride, real ou criada por um qualquer jornalista mais oportunista - no fundo não interessa, reunir-se em uníssono para celebrar num grande evento a nível nacional, através daquela que é de longe a nossa actividade favorita: a crítica alarve, arrebatada, apocalíptica e sobretudo totalmente desprovida de fundamentação (se for alarve, arrebatada, apocalíptica mas tiver uma base factual, tipo o Al Gore a falar do aquecimento global, não serve, é preciso praticar mais!).

Que eu tenha conhecimento, mas corrijam-me por favor se estiver errado, não houve nenhum spam de sms, campanha telefónica ou televisiva e nem sequer umas avionetas a passar com uma  mensagem qualquer mas, assim que se começou a aproximar a data, em todo o país, pessoas que nunca discutiram na vida a República ou leram algo sobre ela ou que sequer fazem alguma ideia do que é, começaram lentamente e de forma totalmente sincronizada a sentir um calor crescente vindo das suas entranhas, uma comichão, um mal estar, uma insatisfação que se foram tornando cada vez mais intensos até, no limite da resistência, já não poderem ficar contidos e se libertarem numa cacofonia monumental.

Em Freixo de Espada à Cinta a Dona Deolinda gritou da sua horta para a vizinha que "quando mataram o Rei mataram Portugal!", na Castanheira do Ribatejo o Sr. Joaquim Antunes, Quim para os amigos, exclamou irado a todo o grupo com quem partilhava as imperiais e o pires de caracóis na tasca do Chico que "este país é desde há cem anos um covil de ladrões!" e até o Joãozinho...aliás o Gui (tenho que me lembrar que os miúdos agora se chamam todos Guilherme!) de São Brás de Alportel ao chegar a casa arriscou: "No tempo do Salazar é que era bom!", tendo sido imediatamente levado por uma orelha para o quarto onde ficaria de castigo por ter elogiado um governante dos últimos cem anos.

Confesso mais uma vez que fico maravilhado com este espectáculo que se repete de tempos a tempos e que só consigo comparar a uma erupção vulcânica, com a grande vantagem de, se mantiver a boca calada, não correr o risco de ser mergulhado em rocha líquida incandescente até ficar totalmente carbonizado.

Esta é também a ocasião ideal, aproveitando o consenso momentâneo, para afirmar aqui que sou a favor da Monarquia. Adianto ainda, depois de comparar demoradamente as mais diversas opções, que penso ser eu próprio a melhor escolha para Rei de Portugal. Aliás, não penso, sou a melhor escolha! Aliás, não sou a melhor escolha, já sou o Rei! Já sou o Rei e pronto! Não sei se foram informados mas eu já sou neste momento o Rei de Portugal. Não venham com lamurias de ser inesperado e não terem tido possibilidade de contribuir para a decisão porque agora são todos meus súbditos e a vontade Real é que conta (é óbvio que sou um Rei absolutista). Como nem a primeira Monarquia nem a República foram validadas pela opinião popular através de referendo, ninguém pode questionar a legitimidade deste novo regime.

Eu compreendo que por enquanto muita gente ainda esteja pouco convencida com esta mudança mas tal como é dito e repetido constantemente por defensores da Monarquia, um dos grandes benefícios deste sistema político é que o chefe de Estado é preparado desde a infância para ocupar esse cargo e, não fugindo à regra, posso confirmar que esse foi o meu caso. Beneficiando da rica herança genética e dos ensinamentos acumulados desde tempos imemoriais pelos meus antepassados, posso afiançar que a minha vida até agora tem sido uma busca contínua de levar até níveis nunca alcançados a capacidade de crítica alarve, arrebatada, apocalíptica e sobretudo totalmente desprovida de fundamentação e se não for essa a capacidade distintiva do Rei de Portugal então não sei o que é.

Desde cedo que identifiquei no meu pai o exemplo do que quereria ser quando crescesse: a capacidade aparentemente inata para, sem levantar o rabo da poltrona, reduzir a uma insignificância humilhante qualquer pessoa que aparecesse na televisão, independentemente de quem quer que fosse ou do que fizesse. Aliás, nem sequer conhecer a pessoa não a salvava, tornava apenas mais reduzido o conjunto de críticas que se podiam fazer o que só aumentava o prazer do exercício.

Outra capacidade notável era a de conseguir discutir um tema qualquer durante horas sem interrupção, isto obviamente sem nenhuma preparação prévia ou mesmo com um total desconhecimento do assunto. Independentemente disso, a ideia apresentada não era assumida como ideia mas sim como a verdade absoluta e universal e alguém que ousasse apresentar argumentos que defendessem uma opinião contrária era logo colocado no seu lugar através de uma crítica sarcástica apresentada de forma paternalista e condescendente para clarificar de uma vez por todas onde estava a razão.

Com o fim em mente comecei então a percorrer o meu caminho, tentando primeiro conhecer os temas em debate para poder fazer as minhas primeiras críticas. Com mais experiência logo me dedicaria a criticar sem qualquer conhecimento da matéria. Confesso no entanto que não foi fácil porque me faltava claramente a prática: "[Eu] Epá o Álvaro Cunhal já cansa. Diz sempre a mesma coisa!" "Cala-te!" ou "[Eu] Aquele Chalana é mesmo brinca-na-areia, não sai do mesmo sítio!" "Cala-te!". Percebi que começar por temas tão comuns seria uma má estratégia de entrada e então decidi apostar em nichos de mercado: "O Ramalho Eanes não consegue mesmo dizer duas frases seguidas, deve ser preciso uma lupa para descobrir massa cinzenta naquela cabeça, eheh" "[Eu] Pois, é como um Stegosaurus que era do tamanho de um autocarro mas tinha o cérebro do tamanho de uma noz! Eheh" "..........(Expressões faciais de interrogação) ...............Cala-te! Raio do puto!".

A minha evolução foi sendo feita assim, a pulso, de pequena vitória em pequena vitória e levou-me a pesquisar temas completamente diferentes, seguindo as modas de cada época, até conseguir criticar tudo o que mexa nem que seja só por analogia a outra coisa qualquer, sem conhecer na realidade o que está em causa. Procuro é não fazer uma crítica sem nenhuma argumentação, do género "Ah e tal a teoria das cordas pode fazer sentido mas é estúpida!" mas sim algo como "Então até o Einstein dizia que Deus não joga aos dados e agora querem convencer-nos que joga à cama do gato?"...não, continua a não ser muito bom. Hei-de pensar noutra coisa.

De qualquer forma, comigo como Rei, os portugueses têm finalmente alguém como seu representante que critica tudo sem excepção tal como é nosso apanágio. Com a República cada interveniente só criticava o que estava conotado com outra força política e com uma intensidade diferente de acordo com o mediatismo da questão, o local onde se encontrassem, acordos que tivessem feito com o outro partido ou que planeassem fazer, etc. o que era claramente insuficiente. Era escandaloso por exemplo que durante cada legislatura, cerca de metade dos deputados não criticassem ferozmente o governo só por serem do mesmo partido. Eu estou aqui para acabar com essa pouca-vergonha e prometo críticas permanentes a tudo e de uma forma totalmente alarve, arrebatada, apocalíptica e sobretudo totalmente desprovida de fundamentação.

Penso que depois desta argumentação já todos devem estar convencidos de que esta mudança é o melhor para Portugal. De qualquer forma, antes de vir a público fazer as minhas primeiras críticas vou certificar-me que as forças armadas e policiais são informadas da mudança de regime e que eu passei a ser a principal prioridade deles. É que isto de dizer que se é o Rei já tem precedentes e pode ser uma ameaça à integridade física. Por exemplo sei de uma pessoa há quase dois mil anos que de um dia para o outro lhe deu para começar a dizer: "Eu sou o Rei dos Judeus.". Ninguém ligou e por isso ele ficou um bocado ferido no seu orgulho. Resolveu então ir ao templo e desatou a espatifar as bancas dos comerciantes antes de repetir: "Eu sou o Rei dos Judeus!" desta vez beneficiando da atenção da multidão estupefacta. Essa primeira sensação de vitória foi logo infelizmente substituída por uma de "Estou que nem posso!" quando a multidão o pregou a uma cruz de madeira o que imagino que deve ter aleijado bastante. Ainda por cima naquele tempo as técnicas para conservação da madeira eram muito rudimentares por isso quase posso garantir que a cruz tinha bicho o que deve ter acrescentado à dor umas comichões terríveis nas costas.

Para evitar ser submetido a este tipo de tratamentos menos elegantes a minha primeira prioridade será então, como dizia, garantir o apoio das forças de autoridade. Com isso conseguido, a minha segunda prioridade será nomear um cronista real que vá escrevendo sobre mim, o vosso Rei, nesta crónica designada "Eu".

domingo, 26 de setembro de 2010

"Grandes para quê?"

Pá eu acho que essa história de "o tamanho não interessa..." é uma grande treta e só é dito por quem não tem outra hipótese ou pura e simplesmente não tem capacidade ou profundidade para mais e acha que está bem assim em vez de se ir exercitando para conseguir aumentar os seus limites. Baseado na minha experiência pessoal, apesar de concordar que existirão outros factores determinantes, eu acho sinceramente que o prazer é directamente proporcional à dimensão e mesmo em público confesso que depois de um breve olhar em volta, o único critério que tenho é o tamanho.

Eu sei que é um bocado simplista mas é mais forte que eu. Assim que identifico o meu objecto de desejo não consigo desviar o olhar e tudo à volta fica envolto numa bruma. Começo imediatamente a imaginar as longas horas de prazer intenso e como sempre acontece terei inevitavelmente de me aproximar, tocar, pegar, primeiro com cuidado e logo a seguir com ânsia, observar de vários ângulos, pegar com ambas as mãos e apertar ligeiramente para sentir a textura e consistência, aproximar o nariz e inspirar lentamente deixando-me invadir pelo seu odor forte. Demoro-me conscientemente nestes preliminares para que, independentemente do que aconteça a seguir, pelo menos este momento inicial de prazer fique bem gravado na minha memória.

Assim que me sinto saciado dessa primeira fome de contacto, preparo-me então para o momento da verdade e, lentamente, faço o gesto já repetido milhares de vezes: pegando novamente só com uma mão como se, subitamente arrependido pela entrega, tentasse desajeitadamente reassumir uma postura mais púdica, giro-a, para me confrontar por fim com a contra-capa.

Neste momento podem acontecer várias coisas: ou ergo as sobrancelhas, abro ligeiramente a boca e vou imediatamente para a caixa (raro, infelizmente); ou semicerro os olhos, solto um "hum" e leio as primeiras páginas; ou aperto um canto da boca, solto um "hum" diferente e leio as primeiras páginas; ou ergo as sobrancelhas, abro ligeiramente a boca e vou imediatamente pegar na minha segunda opção (o segundo maior obviamente).

Seja como for, se pudesse convencer um escritor a escrever dois livros sobre exactamente o mesmo tema mas um com metade do tamanho do outro, ou melhor, pedir às editoras que publicassem uns poucos exemplares, como versão de coleccionador ou algo do género, dos textos originais que recebem: "Acho que está muito bom sim senhor! Traga-me isto em 200 páginas e temos negócio!", eu acredito que o maior seria sempre o melhor e isso apenas por uma questão de nitidez.

Hoje em dia todos estamos familiarizados com o conceito de resolução de imagem. Essa resolução só varia em função do número de unidades de informação (pixels) que a formam. Da mesma maneira a nitidez da mensagem de um livro varia em função do número de palavras que nele existem. É essa também a razão para normalmente ficarmos desapontados com o filme que fizeram sobre aquele livro que gostamos tanto: é simplesmente impossível concentrar tanta informação em 2 horas (ou em 200 páginas) e quem disse que "uma imagem vale mais que mil palavras" deve ter lido só crítica de arte toda a vida.

E esta regra aplica-se a quase tudo. Por exemplo não acredito que alguém possa dizer que tem um grande amigo com quem nunca tenha trocado mais que um par de frases de cada vez. Grandes amizades fazem-se de manhãs, tardes, noites inteiras de conversa. Da mesma forma, não terei qualquer preocupação, antes pelo contrário, em encurtar o tamanho dos posts deste blog ("Ah! Então era aqui que ele queria chegar! Bolas, demorou..."). Ficarei incomparavelmente mais feliz se ele se tornar um grande amigo de uma pessoa do que um ponto de passagem de mil.

Para mim, tal como um livro deve dar tempo para que o leitor se vá esquecendo lentamente da sua vida, vá mergulhando no mundo que lhe é apresentado, interiorizando as culturas, crenças, hábitos, sentindo-se uma personagem, vivendo o enredo até que finalmente fica desorientado e triste quando tudo acaba, o post de um blog deve dar pelo menos tempo para que o leitor vá preparar qualquer coisa para beber, talvez ir buscar um petisco, ponha qualquer coisa que lhe apeteça a tocar, desaperte a roupa, recoste-se no seu sofá e ainda fique a relaxar por um bocado antes de finalmente exclamar "epá, este gajo é mesmo uma besta!" ou observar "por acaso nunca tinha pensado nisto." ou bajular "este gajo escreve mesmo muito bem!" (que no meu caso só acontece quando eu próprio releio os posts).

Portanto a primeira regra deste blog é: posts grandes. A segunda regra é: eu escolho a música. Como já repararam devem ir mudando a música ao longo do texto: (espero que seja intuitivo) e é muito importante que o façam na altura certa porque pretendo com ela transmitir o estado de espírito adequado e assim colmatar as minhas insuficiências de expressão escrita. O meu próprio estado de espírito só tem ligação directa com uma única coisa neste mundo que é a música, mas vou guardar esse tema para outro post senão este ficaria, até para os meus padrões, estupidamente longo. Desta forma também estou a diversificar, porque se não gostarem do texto há pelo menos uma hipótese de gostarem da música e que isso impeça a reacção imediata de amarfanhar e atirar para o lixo.

A terceira regra é: não existe nenhuma interacção com outros bloggers. Apesar do que escrevi no primeiro post não tenho nada contra outros bloggers. A minha frustração tem a ver com a distância abismal entre o que tinha imaginado que viria a ser a blogosfera e aquilo que é na realidade, mas de qualquer forma acho que cada um tem o direito de escrever o que bem entender e como entender. No entanto para mim um blog deve ser um local pequeno, fechado e intimista, nunca um meio de socialização.

A quarta regra é que, a partir de agora, os posts passarão a dividir-se entre 5 grandes áreas que serão introduzidas de seguida. Sugiro por isso que não leiam os posts por ordem cronológica mas pela área que preferirem porque, para lá dos posts serem longos, os temas variarão radicalmente e quando digo radicalmente, quero dizer a um nível que quem não me conhece não consegue imaginar...

São estas então as regras do blog. Aqueles que concordam e gostam, excelente. Aqueles que estão hesitantes porque acham que os blogs já não são assim, temos pena, chamem-lhe um blog retro ou estranho ou o que preferirem. Aqueles que não concordarem e não quiserem ler, "(Em toda a parte todo o mundo tem) Em sonhos me visitaram Traz outro amigo também".

No fundo, pretendo levar a cabo a intenção expressa no primeiro post como se deve fazer sempre: opondo a uma acção uma segunda acção alternativa e não uma reacção antagónica. Na prática limito-me a implementar aquilo que gostaria de ver num blog. Ou seja, se a blogosfera fosse aquilo que tinha imaginado, quando fosse ler o meu blog favorito seria exactamente assim...ok, assim mas em bom, claro!

sábado, 25 de setembro de 2010

"I can make my own people"

Pá eu acho que para lá da justificação dada no post anterior para iniciar este blog devo confessar que também existiram outras questões que pesaram na tomada desta decisão ou que pelo menos, uma vez ela tomada, impediram que eu a enfiasse logo de seguida na profunda gaveta imaginária a que chamo "Parvoíces do costume". Ok, admito que estou aqui a plagiar a minha mulher. Normalmente quando estou sozinho prefiro chamar-lhe carinhosamente "Ideias para o futuro".

De qualquer forma o que é que deu então esse contributo determinante para que me decidisse a expor publicamente algo ("algo" é vago o suficiente. Prefiro não me comprometer com "textos", "pensamentos", etc. para não criar falsas expectativas) escrito por mim? Recordo aos mais desatentos que estamos aqui a falar do miúdo que esteve 3 meses de castigo sem ver televisão nem sair à rua para jogar à bola por se recusar a escrever uma composição, ou redação como dizia o meu pai: "Faz a redação...Faz a redação!".

Também estamos a falar do adolescente que preferiu passar a evitar uma rapariga a ser confrontado com o facto de ainda não ter entregue aquele postal que estava prometido e daquele finalista que andou estranhamente desaparecido na altura de assinar as fitas, tendo conseguido só não se escapar a uma que demorou a tarde toda a escrever sob vigilância do interessado (é o problema de nos conhecerem demasiado bem...).

Perguntava então o que é que finalmente resolveu este omnipresente bloqueio e a resposta é aparentemente muito simples:  passei a ser pai. E evito utilizar aqui a forma mais comum "fui pai" deliberadamente já que não quero ser mal interpretado: não me refiro ao nascimento de um ser cujo ADN foi em 50% construído por material proveniente de cromossomas meus mas sim ao facto de desde esse momento eu ter passado a ser o responsável exclusivo por uma parte do seu tempo diário, incluindo tudo o que for necessário com a única e infeliz excepção de produzir leite. Nada que uma bomba de extração não resolva, claro.

O que é certo é que logo desde o início deste novo hábito, quando ainda estava a dormir na maternidade comecei a sentir algo de diferente, como que um silêncio, uma serenidade que não existia antes. Perspicaz, observei que no quarto da maternidade não havia televisão e que devia ser essa a razão, mas estranhamente a sensação mantinha-se durante todo o dia e em qualquer lugar. Por exemplo quando ia a lojas já não me preocupava em verificar se havia alguém a querer passar ou pegar em algo que eu estivesse a tapar e já não tinha problemas em ver e comparar produtos demoradamente sem ligar ao que outros pudessem pensar do meu gosto ou forretice.

Eu agora penso que o tal bloqueio era simplesmente uma grande relutância em ter que me comprometer com uma solução não totalmente satisfatória, algo que eu designo de "perfeccionismo" mas que também tem sido definido como "lentidão" no caso dos meus chefes e alguns colegas ou como "estupidez" no caso da minha família e amigos (a minha mãe que ainda vai tentando não me ofender diz "palermice"). Sempre fui uma pessoa mais de ciências que de humanidades e sempre lidei especialmente mal com a subjectividade. Como escrever algo é sempre um processo em que não há certos nem errados, enquanto me importei com o leitor foi sempre um sofrimento fazê-lo (já estão a ver onde é que eu quero chegar, espero).

Basicamente tudo isto é resumido numa citação da melhor importação que fizemos dos Estados Unidos nas últimas décadas, a série de culto Seinfeld: "Once a man has children, for the rest of his life, his attitude is, "To hell with the world, I can make my own people. I'll eat whatever I want. I'll wear whatever I want, and I'll create whoever I want."" o que traduzindo para aqueles que ainda não dominam o idioma universal quer dizer: "Pá, 'tou-me a cagar!".

O engraçado é que sempre achei imensa piada a esta frase, aliás é daquelas que eu e a minha mulher usamos recorrentemente em conversas entre nós (ok, só a parte no título do post), mas agora de repente passei a compreender até que ponto é verdadeira, o que me faz pensar que é curioso que desde Erasmo e Gil Vicente até aos nossos dias o humor continue a ser o veículo privilegiado para transmitir as mensagens mais fundamentais. Mas isso já é outra conversa...

Ser pai também aumentou a minha motivação para criar um blog por outras duas razões. A primeira é que eu tenho desde sempre o hábito de ter e partilhar uma opinião sobre tudo (mesmo tudo) ou, na versão resumida da minha querida esposa, sou um "caga-sentenças". Sempre que estamos pacificamente nas nossas vidas e eu começo: "Pá eu acho que..." dá para perceber pela pequena hesitação no movimento da caneta antes de escrever outro número no sudoku ou pela pausa a teclar seguida de alguns backspace ou pelo apertar dos cantos da boca ao virar uma página do livro, que a minha mulher se prepara resignadamente para passar um quarto de hora a ouvir outra ideia peregrina, incentivando-me com uns "hum hum" ocasionais.

Ora se isto não passava de um inconveniente para ela até agora, com a chegada da nossa filha, não só as oportunidades para ter este tipo de conversa são muito menos, como seria também arriscado usá-las exactamente para esse propósito, tendo em conta o cansaço acrescido e as alterações hormonais. Desta forma vi-me na necessidade de arranjar outro destinatário para as minhas divagações e é exactamente aí que entra este blog.

A segunda  razão a motivar-me para criar um blog relacionada com ser pai prende-se com o velho ditado que diz que um homem só terá o seu dever cumprido se tiver um filho, plantar uma árvore e escrever um livro. Ora eu em miúdo plantei uma nespereira no quintal da minha avó. Morreu meses depois é certo, oficialmente por causa das geadas, se bem que hoje penso que o facto de a ter plantado no meio da horta das cebolas deve ter tido alguma influência: "Ah, acertei-lhe em cheio com a enxada sem querer. Que pena, era tão bonita!". De qualquer forma o ditado é omisso quanto à sobrevivência da árvore e penso que neste caso deve-se fazer uma leitura taxativa: "plantar uma árvore" - check.

Quanto ao filho, o ditado segue a mesma linha de raciocínio e exige que se tenha tido um filho e não que se seja pai, seguindo a distinção explicada acima, o que é normal dada a sua antiguidade. Por essa mesma razão imagino também que a intenção original fosse provavelmente só considerar os filhos homens como válidos mas nesse aspecto nem perco tempo com deliberações: "ter um filho" - check.

Fica-me portanto a faltar escrever o livro. Neste aspecto, ao contrário da árvore, acho que devemos fazer alguma interpretação uma vez que na época em que o ditado foi criado a única forma de partilhar e guardar um texto para a posteridade seria escrevendo um livro. Como existem hoje novos métodos de o fazer, nomeadamente blogs, penso que posso considerar este critério como atingido assim que o blog tiver um conteúdo que chegue para encher um livro o que, tomando em consideração o tamanho destes posts iniciais, me deve exigir mais uns 10 no máximo...

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

"Porquê?"

Pá eu acho que primeiro que tudo devo explicar-me. Eu sei que ainda não escrevi nada mas já consigo ver uma névoa escura rodopiante sobre a minha cabeça em que vão surgindo as caras das gerações futuras de leitores deste blog com uma expressão magoada e uma pergunta incessante nos lábios: "Porquê?"

Mesmo enquanto escrevo este primeiro post tenho-me levantado quase de minuto a minuto com um desagrado crescente que já começa a roçar o mau humor talvez porque adivinho já as experiências traumáticas que proporcionarei tanto a quem as procura para satisfazer o seu lado sádico (qual condutor na auto-estrada que nunca dá o braço a torcer ao ver ambulâncias, idosos, carros de instrução, sinais "bebé a bordo" ou até ouriços cacheiros suicidas mas que logo abranda quando vislumbra esperançado algo que parece prometer metais retorcidos e entranhas espalhadas pelo asfalto) como também infelizmente àqueles que saltitam ingenuamente pelos verdes campos da blogosfera sem saber dos terrores escondidos que os esperam.

Por outro lado talvez eu seja uma pessoa insensível à qual nada disso importe e a verdadeira razão para me tornar a levantar desagradado seja para tentar perceber por que diabo é que depois de comer e arrotar como gente grande, a minha nova patroa ainda continue a fazer barulho. Não sei bem qual das duas razões será porque a esta hora as coisas começam a ficar menos claras mas uma delas há-de ser de certeza.

O que é que tenho então a apresentar em minha defesa? Permitam que vos conte uma história...uma longa história...a minha história: desde que me lembro de mim, lembro-me de livros. Sempre os vi como que uma janela para um universo paralelo, como a toca de coelho da Alice, em que poderia ficar imerso o tempo que quisesse porque quando voltasse tudo estaria na mesma e ninguém suspeitaria da aventura que tinha acabado de viver. Assim (saltando um bom pedaço incluindo a adolescência mas sem querer dar muito nas vistas), foi com deslumbramento que acompanhei o início do movimento blogger ao imaginar um mundo perfeito em que finalmente potenciais escritores de todo o mundo se soltassem das amarras de editores e conseguissem publicitar e distribuir a sua obra massificadamente a custo zero e todos nós leitores ávidos pudéssemos deambular livremente pelos textos de todos eles (sim, confesso que também já fui um saltitador ingénuo).

No início, enquanto o fenómeno da blogosfera permanecia relativamente desconhecido, os seus pioneiros foram de facto pessoas que: ou tinham algo de relevante para escrever ou o faziam de uma forma verdadeiramente inspirada ou (sorte das sortes!) reuniam as duas características. Nessa altura achei com optimismo que a coisa se estava a encaminhar para aquilo que tinha imaginado e obviamente que nunca me passaria pela cabeça iniciar o meu próprio blog já que não me incluía (nem incluo) em nenhuma das duas categorias.

À medida que os blogs se foram tornando mais visíveis e começaram a ser usados como forma alternativa de divulgação preferi ignorar a proliferação ou sequer a existência de blogs cujos autores achavam, vá-se lá saber porquê, que ideologia partidária também merece o rótulo "algo de relevante".

Infelizmente isso foi apenas o início da catástrofe que tornou a relevância irrelevante como critério para se escrever em blogs. Foram-se reduzindo também as expectativas relativamente à qualidade de escrita e deixaram de se exigir textos literários para se esperar pelo menos que não se cometessem demasiadas atrocidades contra a língua portuguesa.

Com a cada vez maior dificuldade em encontrar conteúdos interessantes e o contínuo aumento dos "q", "pq", "qq", "sff", "fds" e sobretudo muitos "k" (geração sms) ou então da "adição" "impressiva" de escrever como se tivessem a "massiva" inteligência de uma parede de "concreto", não permitindo uma leitura muito "efectiva" (intelectuais anglófilos) ou então ainda dos "há-dem", "fôsse-mos", "quisé-se", etc. (acólitos do Jorge Jesus), decidi que bastava, que esta relação já me estava a causar demasiado sofrimento e então iria separar-me da blogosfera, desprezando-a para sempre.

Ok, sendo honesto, admito que decidi uma de duas coisas: ou separar-me da blogosfera, desprezando-a para sempre ou convidar todos os seus membros para um jantar numa daquelas quintas para casamentos e a meio da refeição, quando já estivessem bebidos e a largar algumas pérolas de sabedoria (só para levar ao extremo o meu prazer sádico), regar tudo com napalm. Claro que depois de alguns telefonemas, os preços e tempos de espera para conseguir reservar uma quinta fizeram-me desistir da segunda hipótese, mesmo tendo já comprado o napalm num Wal-Mart.

Anos se passaram de alegre e sereno desprezo até que num belo dia sou surpreendido no meu próprio santíssimo quando a minha cara metade anuncia que vai criar um blog...e não só o cria como diariamente passa a comentar o seu conteúdo, o dos blogs preferidos e o dos blogs "acidente de auto-estrada". Foi então através deste novo hábito involuntário que fiquei a saber que a blogosfera se transformou durante a nossa separação em algo semelhante a um cabeleireiro de Cascais em hora de ponta ou aliás num salão de beleza ou o que quer que durante esta semana se esteja a chamar a esse tipo de antros de superficialidade.

Perante esta infeliz realidade e reconhecendo mais uma vez agastado que pelo menos metaforicamente o poço não tem mesmo fundo, concluí que desprezar para sempre não é suficiente para demonstrar o alcance do meu actual desprezo pela blogosfera e claramente o napalm também não seria eficaz em peles já tão habituadas a químicos corrosivos portanto decidi que era o momento de tomar uma medida drástica. Tentando imaginar o que poderia ser mais desprezante do que o desprezo eterno acabei por concluir, excitado e assustado com a ideia, que só o poderia conseguir criando o meu próprio blog.

Ok, se calhar na realidade o processo foi mais: bem, isto já está tão mau, tão mau que até eu já posso criar um blog sem me sentir constrangido...seja como for, agora aguentem-se à bronca!